FALANDO SOBRE O NATAL E A ÁRVORE!

Todo mundo sabe que Jesus não nasceu, de verdade, no dia 25 de dezembro. Simplesmente escolheu-se uma data para comemorar o fato. Isso parece incomodar grandemente alguns líderes religiosos que resolvem abolir, da comunidade que lideram, qualquer comemoração especial a data. Um bom número de seitas, por exemplo, insiste que o Natal é uma festa pagã e que todos os verdadeiros cristãos deveriam afastar-se dela. As Testemunhas de Jeová estão entre as que atacam de maneira mais ferrenha as festividades natalinas. Num artigo intitulado Crenças e Costumes que Desagradam a Deus as Testemunhas de Jeová argumentam: "Jesus não nasceu em 25 de dezembro. Ele nasceu por volta de 1° de outubro, época do ano em que os pastores mantinham seus rebanhos ao ar livre, à noite (Lucas 2:8-12). Jesus nunca ordenou que os cristãos celebrassem seu nascimento. Antes, mandou que comemorassem ou recordassem sua morte (Lucas 22.19,20)". Todavia, considerando a rejeição aberta e agressiva que as Testemunhas de Jeová mantém contra a Encarnação e a divindade de Jesus Cristo, não se poderia esperar outra atitude deles.

Mais recentemente, igrejas e pregadores neo-pentecostais passaram a atacar duramente os cultos natalinos. Os argumentos são similares aos das seitas contra o Natal, só que com mais ênfase no caráter pagão-satânico do bom velhinho. O ataque é resultado da visão dicotomizada de mundo que costuma caracterizar os pentecostais (não a todos, obviamente) e faz parte das críticas que fazem aos programas de Disney, às cartas de baralho, às mensagens satânicas subliminares em músicas de rock, etc., o que enfraquece bastante a força dos seus ataques ao Natal.

Os abusos e distorções também têm provocado reação contrária de pastores e estudiosos reformados. Os argumentos são basicamente os mesmos empregados pelas seitas e pelos neo-pentecostais, sem que com isso queiramos comparar ou assemelhar esses grupos: falta de prescrição bíblica, incerteza da data exata do nascimento, origem pagã da festa e introdução de elementos pagãos ao longo do tempo. Acredito que precisamos jogar fora somente a água suja da banheirinha, e não o bebê. Penso que a realização de um culto a Deus em gratidão pelo nascimento de Jesus Cristo nessa época do ano, como parte do calendário de ocasiões especiais da Cristandade, se encaixa perfeitamente no espírito cristão. Além do que, alguns dos argumentos usados para a cessação total da realização de cultos dessa ordem não me parecem persuasivos.

Por exemplo, o argumento do silêncio da Bíblia, usado quanto às prescrições de comemorar o nascimento de Jesus, para mim não é definitivo. A Bíblia silencia quanto a muita coisa que é praticada nos cultos das seitas, dos neo-pentecostais e mesmo dos reformados. Se formos interpretar e aplicar o chamado "princípio regulador" de modo estrito, teremos de abolir não somente os cultos natalinos, mas práticas como batizar membros durante o culto (não há um único caso de alguém que foi batizado durante um culto no Novo Testamento), só para dar um exemplo. Eu sei que a celebração dos anjos e pastores na noite do nascimento de Jesus, bem como a atitude dos magos posteriormente, não são argumentos suficientes para estabelecermos cultos natalinos, mas pelo menos mostra que não é errado nos alegrarmos com o nascimento do Salvador.

Os argumentos de que os Reformadores, puritanos e presbiterianos antigos eram contra o Natal também não é final. A começar pela falibilidade das opiniões deles, especialmente em áreas onde as Escrituras não tinham muita coisa a dizer. Há muita manipulação das opiniões desses antigos heróis da fé pelos seus seguidores hoje (entre os quais me incluo, mas não na categoria de seguidor cego). Quando eles concordam, são citados. Quando discordam, são esquecidos. Aliás, não tenho certeza que Calvino era contra cultos em ocasiões especiais do calendário cristão. Ao que parece, ele era favorável.

A questão toda, ao final, é quanto ao calendário litúrgico, isto é, a validade ou não das igrejas reformadas realizarem cultos temáticos alusivos às datas tradicionais da Cristandade, como o nascimento de Jesus, sua paixão, morte e ressurreição, Pentecostes, etc. Nenhum Reformado realmente coloca 25 de dezembro como um dia santo, em mesmo pé de igualdade com o domingo. Trata-se de uma data do calendário litúrgico cristão, que pode ou não ser usado como uma ocasião propícia. As grandes confissões reformadas consentem com o uso dessas datas. A Confissão de Fé de Westminster diz que "... são partes do ordinário culto de Deus, além dos juramentos religiosos; votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões especiais, tudo o que, em seus vários tempos e ocasiões próprias, deve ser usado de um modo santo e religioso." A Segunda Confissão Helvética de 1566, produzida sob supervisão de Bullinger, discípulo de Calvino, declara (XXIV): "Ademais, se na liberdade cristã, as igrejas celebram de modo religioso a lembrança do nascimento do Senhor, a circuncisão, a paixão, a ressurreição e Sua ascensão ao céu, bem como o envio do Espírito Santo sobre os discípulos, damos-lhes plena aprovação". A velha Igreja Reformada Holandesa, no famoso Sínodo de Dort (1618-1619), adotou uma ordem para a igreja que incluía a observância de vários dias do calendário cristão, inclusive o nascimento de Jesus (art. 67). Isso mostra que, no mínimo, muitos Reformados eram favoráveis à celebração de datas especiais do calendário litúrgico cristão.

Por fim, creio, também, que a celebração do Natal no calendário cristão encaixa-se perfeitamente com a celebração dos grandes eventos da redenção pela oportunidade de esclarecer a doutrina da Encarnação (João 1.1-4,14). Afinal, o que deve ser celebrado não é simplesmente o nascimento de Jesus, mas a encarnação do Verbo de Deus, a vinda do Emanuel para a libertação do seu povo. Pode-se argumentar que esta doutrina (e outras quaisquer), podem ser ensinadas e celebradas regularmente pelo povo Deus, em qualquer domingo. Mas o argumento contrário também poderia ser usado: deveríamos parar de celebrar qualquer culto que não seja no domingo?

Quanto ao maior símbolo plástico do período, a árvore enfeitada, a antipatia pode ser ainda maior. Talvez isso aconteça porque se conhece apenas uma parte da sua história, por sinal, não necessariamente a melhor ou mais importante para nós que queremos nos preocupar mais com o aniversariante do que com a “festinha de aniversário”. A celebração do Natal a 25 de dezembro foi oficializada somente no ano 570 d.C.. O dia escolhido é o “Solstício de Inverno”(no Hemisfério Norte), dia em que o sol passa por sua maior declinação boreal, isto é, alcança, ao meio dia, o ponto mais baixo do céu, e cessa de afastar-se do Equador. Quanto à luz do sol, é o dia mais curto do ano e com a noite mais longa. A partir dessa data os dias começam a alongar-se novamente.

Os povos pagãos comemoravam esse dia com festas e cerimônias de fertilidade, adorando o “Sol Invictus” (sol invencível). O símbolo é óbvio: o sol, que parecia derrotado subindo no horizonte cada dia menos, “recupera-se” a partir desse dia e recomeça sua escalada vitoriosa até o ponto mais alto do céu. Já que os pagãos comemoravam essa data adorando o sol, os cristãos, como reação, passaram, nesse mesmo dia, a comemorar o nascimento de Cristo, o verdadeiro sol da graça. O Natal é um período de 12 dias, logo após o Advento, que começa no dia 25 de dezembro (não termina!) e se estende até a Epifania (aparição de Deus), a 6 de janeiro. A festa do Natal e os 11 dias que se seguem, celebram o nascimento de Jesus, a vinda do Messias prometido, que mostra em forma humana, o amor de Deus por toda a humanidade.

Além das lendas mais populares sobre a Árvore de Natal, há origens bem mais importantes para nós, cristãos, bem menos conhecidas. Sua origem está nos costumes da “Árvore do Paraíso”, usada em lares e igrejas na época do Natal, na Europa do século XI. Era a representação da “Arvore da Vida” plantada no meio do Éden, no começo dos tempos (Gn. 2.9) e encontrada no centro da Nova Jerusalém, na consumação dos séculos (Ap. 22). A idéia da Árvore de Natal como “Árvore da Vida” associa-se ainda à “Árvore da Cruz” (1 Pe 2.24). É a idéia do madeiro (ou como no grego “Tronco”), sobre o qual “Cristo levou os nossos pecados no seu corpo”. Nesse caso, a árvore que celebra o nascimento, com seu tronco aponta já o calvário, à cruz, razão maior da vinda daquela criança tão especial.
Outro conceito importante é o da “Árvore Cósmica”, da igreja primitiva. Por ser cósmica a dimensão da morte no calvário, a cruz era tida como a “Árvore Cósmica”, estendendo-se das profundezas da terra até os mais altos céus. Tratava-se, pois, de uma forma de exprimir o sentido cósmico (universal da crucificação, no seu efeito de redimir toda a criação do poder do pecado e da morte, restaurando-a à relação original com Deus. Vem a ser, assim, a “Árvore da Salvação”.

A Árvore de Natal guarda ainda a semelhança com a “Árvore da Luz” do judaísmo. No A.T., a “Árvore da Vida” era representada pela amendoeira, que, na brancura de suas flores, em pleno inverno, prenuncia a chegada da Primavera. Segundo o modelo da amendoeira, Deus instruiu Moisés quanto à feitura do castiçal de sete lâmpadas para o Tabernáculo, o Menorah (Êx 25:31-40). Assim, no Menorah o simbolismo da “Árvore da Luz” e o da “Árvore da Vida” se correspondem.

Não é difícil concluir que podemos recuperar sentidos mais profundos para a Árvore de Natal, em nossos lares e igrejas, do que os símbolos pagãos aos quais costuma ser ela associada. Há riqueza de idéias que nos lembram que no coração do Natal estão a Cruz e a Ressurreição.

Se Jesus apenas tivesse nascido e morrido, ele teria nascimento e morte similares a todos os líderes religiosos posteriores a ele. O enorme diferencial é exatamente a ressurreição. O Natal, portanto, aponta para a cruz, antevê a cruz, considera a cruz. A Árvore de Natal nos revela o tronco, antecipa o madeiro: materializa a cruz para nós.

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